IMAGINÁRIO EM PERPÉTUA CRIAÇÃO

Os Quatro Temperamentos no Tarot

parte 01

Edu Berlim

8/11/20254 min read

Recentemente me debrucei sobre algumas questões dos Quatro Temperamentos graças a uma curiosidade específica causada por minha psicóloga. Ocorre que em determinada sessão ela resolveu me submeter a certo teste de análise de temperamento e obtive um resultado, no mínimo, estranho: possuo dois temperamentos distintos em igual valor. Neste ponto, devo dizer que não tive um grande choque até perceber que minha psicóloga (que tem muito mais gabarito que eu para avaliar pessoas) estava neste grande choque.

Percebendo a estranheza dela, minha curiosidade sobre o tema se iniciou e comecei a buscar referências em outros aspectos de mim mesmo que já me são conhecidos. Percebi, por exemplo, que o meu próprio mapa natal tem uma predominância extrema de dois signos: um colérico (Sagitário) e um melancólico (Capricórnio). Também percebi que por toda a vida a energia colérica me impulsionou ao fazer e a força melancólica me impulsionou ao criar, o que me permitiu não só compor músicas, escrever textos, poesias e até mesmo um livro, mas também me permitiu publicá-los, entregá-los ao mundo sem qualquer receio.

Considerei ainda os testes de Facebook que foram uma moda longínqua em que todos os meus resultados tendiam a algum tipo de empate. “Descubra se o teu cérebro é masculino ou feminino?”, “você é de humanas ou de exatas? Descubra!”, “descubra se você prefere café ou chá! Teste gratuito!” etc. – todos sempre tendendo a certo empate. Por fim, me debrucei sobre meu próprio diagnóstico de neurodivergência, que apontou uma dupla excepcionalidade: tenho uma com tendência colérica, outra com tendência melancólica. E (como aparentemente me basta essa curiosidade para que eu comece a buscar correlações em absolutamente tudo) passei a olhar para o Tarot e pensar: ‘como se apresentam os temperamentos nesta joça?’

Existe, obviamente, uma correspondência por naipes, por aspectação planetária e mesmo por signos. Não precisa de muito para perceber que o Imperador é Colérico e que a Imperatriz é Sanguínea, que a Sacerdotisa é Fleumática e que o Mago se enquadra em um “frio e seco mutável”, podendo alterar seu temperamento de acordo com a situação (se ele não pudesse fazer isso, dificilmente seria o maestro do mundo exterior). Mas e aí? O que isso significa realmente?

Vamos por partes... Como podemos, por exemplo, definir o temperamento Colérico? Essa é a primeira questão que devemos nos ater: na definição dos próprios temperamentos. Neste sentido, gosto de um trecho específico do ‘Elogio aos Quatro Temperamentos’, do Ítalo Marsili, que diz:

O colérico típico marca a presença do fogo. Para entender um colérico, ou entender-se enquanto colérico, será preciso remetermo-nos à experiência bruta do elemento ao qual o tipo está associado simbolicamente. Como os temperamentos são realidades simbólicas, faz-se necessária certa observação dos elementos e da natureza. Diríamos que, por mais excêntrico que possa parecer, um método valioso para a compreensão do temperamento colérico é a observação do fogo.

Sem a memória da experiência pessoal do fogo, incluindo as brincadeiras infantis com fogo, um certo respeito que o fogo impõe por si mesmo etc., não será possível identificar analogicamente essas características em seres humanos.

O elemento fogo caracteriza-se por deixar marcas. O fogo queima, marca a pele, e universalmente deixa seu rastro por onde passa. A imagem de uma floresta incendiada é muito instrutiva. Resta um clarão carbonizado, o cheiro de fumaça e o calor intenso, uma marca inconfundível de que um terreno foi atingido pelo fogo.

É impossível observar esta descrição e não verificar a sensação de terra arrasada causada pelo Arcano XVI; A Torre. Sua correlação marcial carrega, naturalmente, o temperamento colérico, mas o seu próprio papel enquanto um significador apontando para um significado. E se a Torre/Marte carrega este temperamento colérico, suas regências em Áries/Imperador e Escorpião/Morte devem carregar algo disso, correto?

A natureza colérica do Imperador é altamente evidente enquanto uma representação de um signo de fogo/cardinal (o mais colérico dentre os coléricos) e, da mesma forma, é possível ver certo aspecto colérico em Escorpião, mesmo que este signo seja, por excelência, um Fleumático. Esta ideia de um signo com temperamento específico que possui um temperamento secundário por regência é extremamente interessante, por sinal, mas deixo isso para outro momento.

Nos resta agora observar que outros arcanos maiores possuem relação com o fogo, tarefa que nos faz observar a Força, a Temperança, o Sol e o Julgamento. Ora, na Força é evidente o aspecto colérico para qualquer um entenda que Colérico (o temperamento) é diferente de cólera, ira, raiva etc. Ao verificar que Marte e Sol possuem temperamento Colérico faz-se necessária a compreensão do que está contido no conjunto deste temperamento.

O Sol, enquanto arcano, encerra o ciclo, encerra a jornada, e por isso é este fogo que encerra a vela, que deixa uma marca. Oras(!), mas o Julgamento é esta exata marca que fica no Louco quando este percebe que precisa aprender sobre a jornada que passou – o epílogo é um sinal, uma tatuagem, uma marca de cigarro que Constantine causa em si mesmo e em seu pulmão.

Resta-nos então observar a Temperança, correspondente a um signo Colérico de sub-temperamento Sanguíneo (pela regência por Júpiter). Bem... O Colérico aqui se mostra evidente quando percebemos o aspecto de jornada que o Tarot carrega: o Louco esteve sem ação por longo tempo, deixando a vida me levar da pior forma que Zeca Pagodinho poderia supor. Fomos de Roda da Fortuna para Justiça, de Justiça para Pendurado, do Pendurado para a Morte: todos processos de retenção, de aprisionamento que gera ou não alguma mudança. Todos sem direito de reação. O temperamento que permite a saída, que permite retomar alguma autonomia, é justamente o Colérico.

Mas um Colérico/Sanguíneo precisa ter outras características essenciais, que é o caso da Temperança. Gosto de dizer que “quem tempera, tempera com algo; ao temperar um arroz na panela você não o tempera com mais arroz, mas com sal, alho, cebola, curry ou qualquer outra coisa que não arroz”. Isso ainda remete à têmpera que damos aos metais através do... fogo. É... É realmente interessante observar o Tarot por esta ótica...