IMAGINÁRIO EM PERPÉTUA CRIAÇÃO

Oração Hermética em Análise [Parte 02]

que a Filha dos Poderosos nos abençoe

Edu Berlim

8/4/20253 min read

Seguindo com esta pequena série, passo para uma análise do segundo verso de minha própria oração de Netzach. No segundo verso, eu inicio um trabalho muito mais hermético, em termos de correspondência:

Que a filha dos poderosos nos abençoe

Através de sua porta para a eternidade

Com a visão da beleza triunfante

Nos levando aos desígnios da santidade

Ao analisarmos o Tarot por suas correspondências conforme expostas pela Golden Dawn, temos que a Imperatriz possui uma correlação simbólica com o planeta Vênus. Este é o motivo ao qual clamo uma benção da chamada “A Filha dos Poderosos”, título do arcano maior de acordo com o Libet T (que pode ser encontrado como parte do ‘A Golden Dawn’, do Israel Regardie).

Por sinal, todo este trecho é referência direta ao arcano maior da Imperatriz e isso se faz pela correspondência hermética de Netzach com Vênus e de Vênus com ‘A Filha dos Poderosos’. Desta relação também se deriva o trecho seguinte, pois a “porta” é Dalet (ד), letra hebraica correspondente ao mesmo arcano, símbolo que se repete em todas as sete orações, em acordo com um trecho do próprio Sepher Yetzirah:

“Sete Dobradas: Bet, Gimel, Dalet, Kaf, Peh, Resh e Tav. Por Ele gravadas e talhadas, pensadas, permutadas e transformadas. E com elas, Ele formou os sete planetas do Universo, os sete dias no Ano e os sete portais na Alma, macho e fêmea”

[Tradução por Rafael Daher, ed. Daemon]

Vale dizer aqui que a correspondência hebraica das letras não é igual a correspondência hermética. Dalet, pelo Sepher Yetzirah, é a letra que forma o Sol e o dia de terça-feira, mas esse tema não será aprofundado neste texto. Na natureza hermética, Dalet se encontra com a Imperatriz por ser a quarta letra (o que corresponde ao terceiro arcano, já que o Louco não é um arcano numerado), com o quarto “segredo”.

A Eternidade cuja Porta é aberta pela Imperatriz é a própria Netzach, uma sephira que recebe duas traduções: Vitória e Eternidade. É deste segundo título que se parte a ideia do sinônimo no uso da palavra “triunfante” como adjetivação da Beleza de Vênus. Esta é uma correspondência curiosa, já que Beleza é o título de Tiferet, o Sol, que corresponde a Dalet na literatura judaica – e que é uma das características de Vênus na Astrologia Clássica.

É com esta “visão da beleza triunfante” que se rompe a “Porta para a Eternidade” que reside no seio maternal da Imperatriz: a Eternidade só pode ser alcançada na morte que existe após a vida, após o parto. Enquanto Senhora da Maternidade, este arcano é a própria Mãe do Leão Verde capaz de alçar-nos à Inteligência Iluminadora: a Luz que ilumina o que há depois da porta/útero, o que há depois do nascimento que antecederá a tua morte.

Este, no fim das contas, é o desígnio da Santidade conforme apresentado biblicamente em Gênesis 1:28:

"E Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus e sobre todo o animal que se move sobre a terra."

O domínio sobre os animais que se movem sobre a terra e as aves do céu é entendido muitas vezes como o domínio sobre os espíritos angelicais (as aves) e infernais (movidos sobre a terra). Esse domínio, somente possível pela reunificação da dualidade razão-emoção é o que se chama em hermetismo de “eixo mente-coração”, motivo pelo qual este verso soma exatas cinquenta e seis sílabas (7x8): é uma referência as esferas de Netzach/emoção e Hod/razão.

Mas a questão da Eternidade será ainda mais destrinchada nos próximos versos, quando se continuam as referências diretas ao Tarot. Então aguardem as próximas partes.