IMAGINÁRIO EM PERPÉTUA CRIAÇÃO
O Menino da Porteira e a Interpretação Simbólica
porque tem vezes que a porteira não é só uma porteira...
Eduardo Berlim
1/8/20251 min read
Dentro de temáticas de magia uma questão que eternamente precisa ser desenvolvida é a capacidade de interpretação simbólica e, às vezes, nem tão simbólica assim. Se há um problema de interpretação na arte, necessariamente se dará um problema de interpretação espiritual e isso certamente causa enorme confusão nos debates do meio ocultista: pessoas cuja capacidade interpretativa segue subdesenvolvida tendem a ter mais certeza sobre mensagens espirituais do quaisquer outros.
‘Menino da Porteira’ é um dos eternos clássicos do “sertanejo raiz” do nosso país, mas poucas vezes encontrei alguém com capacidade de compreender alguns pormenores de sua letra. A história é notadamente triste e inclui um boiadeiro que dava moedas para um menino que lhe esperava na porteira de algum ermo local nos sertões da estrada de Ouro Fino. O menino pedia ao boiadeiro que tocasse o berrante a cada passagem da boiada por aqueles arredores. A tristeza da música surge quando descobrimos que o menino não mais estava lá, pois tivera sua vida tirada por um “boi sem coração”.
Mas quão comum é que se perceba que as moedas que o menino juntava eram para comprar seu próprio berrante? Ou mesmo que ele foi morto por um boi ao qual tentou domar, num ato de imitar o boiadeiro? E que tal que o menino finalmente juntou suas moedas, comprou seu berrante e, justamente por isso, tentou domar o boi?
O triste rangido da porteira que o boiadeiro ouve na penúltima estrofe da música ainda é, de certa forma, o berrante tocado pela imagem do menino que ele ainda avista. É o seu desejo de boa viagem ao boiadeiro e por isso o juramento deste de jamais tocar o berrante novamente por aquelas bandas: quem toca o berrante por aquelas bandas é o menino morto. Não é à toa que o pensamento do boiadeiro não sai mais da cruz do estradão...
