Música como a arte de contar histórias

Já perceberam como a música é capaz de contar histórias que de qualquer outra maneira seriam impossíveis? Há algo de poderoso na Arte e isso é bastante óbvio para qualquer ser humano, mas me parece que a música é capaz de um passo que outras artes não são capazes: ela cria o contínuo em um espaço curto, sem imagens, sem qualquer apelo visual.

Vamos olhar como primeiro exemplo a versão de Roberta Sá da música ‘Casa pré-fabricada’. Como fora da música uma letra dizendo “Canta que é no canto que eu vou chegar, canta o teu encanto que é pra me encantar; canta para mim, qualquer coisa assim sobre você que explique a minha paz, tristeza nunca mais” poderia carregar qualquer significado? Sem ser cantada, qualquer metáfora sobre canto parece-nos um ultraje e talvez por isso as aves de Gonçalves Dias gorjeiam ao invés de cantar.

Mas e se juntássemos todos os nossos sonhos para ir à procura de nossos desejos? E se estivéssemos cheios de emoção ao assumir os lemes? E se bússolas apenas nos atrasassem? E se fôssemos piratas em busca de um tesouro lendário? Como poderíamos expressar isso sem gritar WE ARE ON THE CRUISE em uma abertura que sintetiza toda uma história que já passa dos mil capítulos a essa altura?

Agora... E se uma coisa nos dominar e não nos reconhecermos mais? Se o diabo estivesse a nossa porta espreitando nossa solidão e a loucura nos acometesse? Tente expressar sua loucura sem as pausas de Teddy Swims e perceba que perder o controle não é tão divertido assim... O grito de seu coração nos atinge como quem percebe, tal qual Nietzsche, que “sem música, a vida seria um erro”.