Inocência não é o bastante para perdoar

Há um arcano particular no Tarot que tende a causar certa confusão tanto por seu nome, quanto por sua correspondência astrológica. Diferente do que se acredita, a Lua passa longe de ser um arcano positivo ou meramente ilusório. Ademais, sua correspondência com o signo de Peixes gera a dupla confusão: primeiro por ‘não ser associado com a própria Lua enquanto astro’, mas também pelo erro dos que consideram Peixes como ‘o limiar final do zodíaco', o ponto em que 'se fecha o ciclo de reencarnações’.

A Lua é sobre ‘volver sentimentos’, sobre o dano emocional que sofremos quando confrontamos o que a literatura batizou de ‘a noite escura da alma’. Ela é o confronto do ferido, a batalha final que pode terminar em redenção ou em derrota completa (representada pelo simbolismo das duas Torres presentes na ilustração da Pamela Colman Smith). No fim das contas, o que este arcano representa é o conflito último, o confronto com Darth Vader por um Luke que vê seu mestre morrer nas mãos de seu pai.

A Lua, enquanto essa passagem, é inicia o famoso poema de São João da Cruz: “Em uma noite escura de amor em vivas ânsias inflamada”. Esta ânsia é a esperança que se fez presente no arcano anterior, é o que diferencia a Lua da Torre: a primeira é um conflito temível, mas em que ainda há esperança de vitória, enquanto a segunda é o massacra cataclísmico que destrói a arrogância do aprendiz.

Não é a toa que a sequência se evidencia com o Sol raia o dia, apresentando o fim da jornada com um “basta bater os sapatinhos três vezes e dizer que não há lugar como o nosso lar”. Só se lembre de ter preparo, pois se somente a esperança forja tuas armas a derrota será inevitável. Todos os arcanos anteriores te preparam para este conflito e você deve tirar essas valiosas lições para trespassar o poema que começa com “uma noite escura” e termina entre as açucenas tão esquecidas.

Mas melhor do que explicar, é mostrar!

Minha recomendação é que se veja o filme ‘O Túmulo dos Vagalumes’ do brilhante Hayao Miyazaki. Para quem já viu o filme, proponho uma reflexão (e para quem não viu, proponho que vá ver): qual é a mensagem final desta obra?

Minha única dica será: releia o título deste texto.