IMAGINÁRIO EM PERPÉTUA CRIAÇÃO
Existe limite técnico na arte?
spoiler: não
Eduardo Berlim
1/8/20252 min read
Não é incomum que certos limites sejam estabelecidos em nós mesmos através do comparativo do outro e não é incomum que sejam considerados como ‘gênios’ os capazes de romper com estes limites. Curiosamente, muitos desses limites não são rompidos por uma nova e inovadora técnica, mas simplesmente porque alguém tentou.
Dentro da música erudita é possível traçar a história das técnicas instrumentais e ver como cada compositor precisou inovar no uso de seus dedos ou dos próprios instrumentos, trazendo novas técnicas para a luz do mundo. As linhas polifônicas de Bach, as oitavas acentuadas de Beethoven, a ondulação de Schuman, as fugas cromáticas de Chopin, as vozes intermediárias de Liszt e os ritmos galopantes de Rachmaninoff são bons exemplos de como suas contribuições mudaram o piano de forma bastante definitiva.
Contudo, nenhuma dessas técnicas era “impossível” antes de serem criadas: apenas não eram vistas. Roman Kim, um violinista cazaque, parece se unir ao Dimash (citado num texto anterior) como mais um expoente de virtuose do curioso país da Ásia Central. Se por um lado ele levou ao violino técnicas comuns à guitarra em músicas como Highway Star do Deep Purple ou na God Save The King do lendário Niccolò Paganini, por outro seu trabalho foi o de unir técnicas antigas e apresentar algo que “não podia ser feito antes”.
Kim certamente é um virtuose no violino e é evidente que seu nível técnico é elevadíssimo, mas a grande surpresa de vê-lo apresentando sozinho peças para quarteto de cordas e orquestras em um único violino parecia alçá-lo ao nível de completo gênio. E não é que eu discorde de que ele se revela como um gênio da música, mas sua impressionante Air in G String tocada em um único violino é possível de ser tocada, só não fora tentada antes. Existem trabalhos muito mais impressionantes de Kim, mas provavelmente é o tipo de coisa que impressiona muito mais aos violinistas que ao público que os assiste. No fim, ele ainda não é um “novo Paganini”, como alguns correram para dizer – até porque ele jamais seria um “novo alguma coisa”, mas um único espécime de si mesmo.
Mais uma vez fica o questionamento para nós: se magia é a arte de fazer o impossível, por que seguimos limitando nossas possibilidades através de questionamentos pautados no que já foi feito ou não? Não é dizer que “você pode” como uma forma de slogan esquisito; é dizer que você deveria tentar, anotar e se aprimorar até apresentar algo que “não era possível até que você fez”. Afinal, se magia não serve pra isso, pra que serve então?
Air in G String – Stringspace String Quartet
Air in G String – Roman Kim (solo)

