IMAGINÁRIO EM PERPÉTUA CRIAÇÃO

A Música não-tão-sacra

É... Na vida é preciso aprender, se colhe bem que plantar, é Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar...

Eduardo Berlim

1/8/20252 min read

a close-up of a map
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É mais do que evidente o poder que a religião influencia na música, mas talvez não seja tão comum a percepção do papel que a música exerce na religião em si. Existe a música sacra, aquela de caráter sagrado, criada pela própria religião em si, e que se manifesta nos mantras hindus e nos cantos gregorianos católicos, os nasheed dos Surah islâmicos e os salmos judaicos. Que há toda uma influência direta entre essa música e a religião percebida pelo fiel é evidente e dificilmente encontraremos algum culto que não possua música incrustada, mas e quando a música surge do lado de fora da religião e a afeta?

Para o brasileiro, é inegável que há uma percepção religiosa que transcende a música sacra. Não é incomum que pessoas tenham uma percepção das religiões afro-brasileiras através das músicas de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Arlindo Cruz.

Curiosamente, esta percepção das religiões na música não é uma exclusividade tão simplista quanto se faz notar. O cristianismo é certamente influenciado pela música não-religiosa que induz o público a uma bondade divina do Deus cristão. Desta vez, podemos perceber essa forte influência alcançando Ana Castela, Gusttavo Lima e Luan Santana.

Mas certamente é no catolicismo popular que vemos a maior força da música brasileira não-sacra de caráter religioso. É praticamente impossível desconhecer um punhado de músicas de Roberto Carlos sobre o tema, mas é curioso perceber que Ave Maria também foi gravada por nomes como Chitãozinho e Xororó e Jorge Aragão (que carrega uma religiosidade extremamente brasileira que inclui catolicismo, umbanda, uma devoção especial por São Jorge e Cosme e Damião). E isso sem contar os tantos padres como os Fábio de Melo e Marcelo Rossi.

Nem o rock se bandeou tão bem para os lados do seu pai, o Diabo, e são tantas as Rosas de Saron e as Oficinas G3 espalhadas por aí que o rock evangélico já é uma realidade bastante forte. Mas para além delas, temos O Rappa, Charlie Brown Jr., Nenhum de Nós e mais uma longa lista de bandas e artistas que tratam a fé como tema de suas canções.

E é entre “Romaria” de Renato Teixeira, “Andar com Fé” de Gilberto Gil e “O Poder da Criação” de João Nogueira que encontramos a mistura tão brasileira que gera reggae umbandista, MPB satanista, rock thelemita e samba evangélico de uma forma tão singular. Não que os gringos não tenham seus casos, como Lenny Kravitz com “Are You Gonna Go My Way?”, Bob Marley com “Redemption Song”, Mumford and Sons com “The Cave”, David Bowie com “Word On a Wing” e o “Sinnerman” de Nina Simone, mas só o Brasil é capaz de gerar uma Sandy cantando “Pés Cansados” e um Zé Ramalho que canta “A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu”!

É... Na vida é preciso aprender, se colhe bem que plantar, é Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar...

Dá até vontade de criar uma playlist...